domingo, 28 de março de 2010


da sèrie "Testuremas "Transcendentais " fotografia digital . flavio Pettinichi- 2010

Aqui, nesta floresta de sentidos perenes
Onde o geo-silêncio acorda e geme em tormentas
Aqui, neste deserto de raízes secas e expostas
O sal e a espuma criam e recriam formas de sentimentos e luz
Aqui, na profundidade abissal dos sonhos
Há de existir um tesouro de cadências e estrelas ainda por abrir
Aqui, onde a inúbia desgarra a serenidade e ecoa no horizonte
Encontro o esqueleto enterrados do tempo e suas espúrias horas
Aqui , não há mais que portas e janelas, ora abertas , ora fechadas
E a paisagem é uma sombra que metaboliza a razão das coisas
Aqui, onde o desencontro das certezas é uma dádiva
Não há lugar para a agonia das marés vazantes das saudades
Aqui , neste recôndito espaço do éter, o caos é um instantes de constelações
E deambulam os desejos e as poesias livres como cavalos selvagens
Aqui dentro da minha alma...
flavio Pettinichi - março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010


Texturemas transcendentais
FotoArte: flaviopettinichi - 2010


Gosto da suculência das palavras
Engordando o esquelético vazio do silêncio.
Amo a ríspida dureza dos verbos a destempo
Arranhando as intestinas paredes do momento.

Sou defensor do verso trunco e a estrofe amputada
Aceito o destemido punhal do acaso quando acaba a rima.
Sim, não me venham com matemáticas dos sentidos verbais
Uma vírgula pode ser o impasse entre um soco ou um chute.

Escrevo como um ato suicida e insano como um coelho na alcatéia
Morre-se antes ou depois da próxima sentência, mas, sempre se morre
Sou irmão de sangue dos adjetivos em desuso e dos qualificativos infames
Desconheço a gramática que acorde as tormentas, prefiro as janelas.

Gosto da suculência das palavras ...
Flavio Pettinichi- 23 – 03-2010

domingo, 21 de março de 2010


Não é minha voz a que grita e desgarra as palavras
E sim uma interminável agonia de esperas
Não é a minha violência a que dá o soco nas trevas da alma
É sim uma tempestade que não perdoa as magnólias inertes
Não é meu sangue, humanamente pouco, quem coagula instantes
É sim uma infinita via láctea de estrelas agonizantes antes do dia
Não é minha visão a que alarga o horizonte dos impuros ímpios
É sim a profundidade das marinas rochas a que enterra as algas da fé
Não é a minha palavra a que adormece numa rua sedenta de absinto
É sim a insignificância das sombras a que atinge o alvo dos niilistas.

Flavio Pettinichi – 21- 03- 2010 – outono já

quarta-feira, 17 de março de 2010


Sinto na aspereza da estrada cega o desgarro da palavra inocente
Antes da noite inerte cobrir a luz do homem eu era flor e canção
Antes do grito das águas eu era um angel sem asas e flutuava em ti
Agora a solidão é um mapa no qual eu estou aprendendo a ler

Já acordei em maremotos e trilhos de uma velha estação
Já devorei ventos e vomitei a mais bela poesia no inferno do ser
Nada foi tão devastador como o vazio de um livro sem a última página
Nada foi tão cruel como teus lábios exilando o beijo fugitivo

O abraço do frio aperta o que ficou corpóreo em mim e me afoga
Sôfrego o meu destino de arte e tão rude como uma rua sem saída
A ofegante respiração do mar pede o meu auxilio de sal e horizonte
Preso da minha ilusão, sou navegante a procura da estrela num mar cósmico

Perdi a bússola , agora tudo é liberdade...
Flavio Pettinichi – 15 – 03- 2010

sábado, 13 de março de 2010



Primeiro fui o Verbo e o verbo na cosmogonia essencial
Antes de mim estavam os cantos que devoravam as tormentas
E antes dos cantos o silêncio estelar de toda matéria exposta
Depois fui maré em um mar parindo sonhos e destinos

Andei na incomensurável agonia do tempo e as vagas horas
Lentamente fui expandindo as vísceras de uma carne que não era minha
Fui resplandecendo em nuances e brilhos de uma pedra ainda por lapidar
Um lago de lágrimas de alegria mostrou meu corpo de asas e ventanias

Fui acordando em cada folha reverdecida e em cada pedra do abismo
Dos bosques decifrei os papiros da fé e das rocas extrai o mel das harmonias
Ecoei meu sentir num outro sentir de caminhos e guitarras de sol
Colhi a inverossímil sensação das distâncias e os infantes pecados

Agora já não há caminho nem mistérios que ceguem meu empírico rumo
Cartas de amor rasgadas, jardins esquecidos, uma taça vazia e teu batom
Tudo é terra fértil onde as minhas sementes buscarão o seu refugio vital
Voltarei até o cerne hídrico e minha alma será rio onde mergulhe teu desejo
E em bolhas de ar navegaremos etéreos.

Flavio Pettinichi- 12- 03- 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010


Quando éramos crianças os sonhos eram frutos maduros
E os pássaros mensageiros da alegria das cores e sons
Quando éramos crianças o tempo era um bolo de cometas
E nos córregos navegavam mistérios de luz sem destinos

Eram azuis os trigais e o amanhã era um brinquedo de lata
As flores tinham a fragrância da chuva na eterna primavera
A novidade do amigo era a saturnal festa dos deuses pagãos
E a fé era a cama quentinha no inverno das horas

Todas as piedosas mentiras eram verdades de um dia
Não existia o medo e a raiva nem o nunca ou o sempre
A janela do quarto era a porta do onírico universo
Os nossos desejos eram só alguns a mais que as estrelas

Quando éramos crianças juramos felicidade eterna
Lembras?

Flavio Pettinichi – 10-03-2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher
Primeiro foi o caos e depois a tua essencial luz fêmea
Héstia,Demeter,Ártemis, Atenas ,Gaia ou Gea
Sempre mulher e em todas elas Afrodite eterna
Soberana rainha, deusa da infinita razão de existência

Eva etérea, Maria Madalena sem pecados concebidos, Maria mãe da sublime fé
Elo fundamental da história Cleópatra, Joana Dárc, Maria Bolena
Evita dos pobres, Benazir da Igualdade, Anita companheira
Matha Hari dos mistérios, Maria Quitéria anônima, Carlota megera
Não há poesia que não leve tua tinta ou o canto da tua alegria
Clarice intestina, Cecília meiga, Virginia dos Lobos, Anita brasileira,
Cora dos sentidos, Leila das paixões, Carmem das cores, Gal da voz

Eu te canto Cida, viúva de Pixote, Célia revolucionaria amante de Ernesto “Che”
Eu te choro, Mãe sangue de Cazuza e Henfil, fé inquebrantável da ternura
Eu silencio na tua lagrima mulher do sertão de Graciliano e Euclides
Eu grito no teu urbano desespero mãe de Helio e de Camila da bala perdida
Perdendo e apagando sonhos.

Mulher, onde os homens falem teu nome eu serei a brisa e a espuma
Você há de ser o meu horizonte e todas as marés da minha poesia
Calarei as minhas dúvidas e apagarei as vãs perguntas, sei agora
Por que te amo e só me resta teu regaço.

Flavio Pettinichi- 05 -03- 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010


Da série Light Painting- “ Aranha Cósmika”
Fotografia digital – Canon – Power shot A 560 -Flavio Pettinichi- 2010


Quis cortar o pulso da noite para que não agonize no dia
Quis deter o curso suicida do rio que deságua no mar
Quis que de toda pedra a dureza fosse apenas tempo
Quis uma hemorragia de algas sangrando nos peixes

A noite me acordou espavorida de estrelas e constelações
O rio devorou o minério que se escondia no leito de areia
A dura pedra geme a sua lágrima e rasga as horas do inverno
Um peixe de sal rega as almas de um jardim de sombras

Escrevo com as tintas das algas algo que fale do sal da noite
As lágrimas secam congeladas no leito de um mar de sombras
Pulsam as almas na lama do leito vazio do rio
Há um suicídio no inverno quando não há mais gemidos.

Flavio Pettinichi- 02- 03- 2010