quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



Eu encontrei os veios da noite e as suas texturas perenes
Não temi perante a prepotência das horas e seus sortilégios
Houve o instante do sangue e o final olvidado de um livro velho
Não desisti da dor que emana dos gritos das águas e as pedras

Dancei com o tormento e a euforia da eternidade do amor
Nada foi tão voraz quanto a ferida das folhas secas do passado
Meus risos crivaram de estrelas os muros sujos do orbe agonizante
E na estação onde o trem partiu escrevi um poema de chegada

Narcotizei um sonho para que não acorde antes de mim
Tenho a urgência dos cactos e a sapiência do espinho na flor
Vim me buscar dentre todas as imagens de um museu clandestino
Não resistirei , sei que alem de mim encontrarei aquele que existe em si

Sou o ato e a conseqüência ...

Flavio Pettinichi- 25 - 02- 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010




"Luz essêncial"
-Light Painting- fotografia digital- Flavio Pettinichi-2010

Em alguma gaveta devemos ter esquecido o soneto das flores vitais?
Em algum livro devemos ter esquecido de regar as palavras de amor?
Em algum sótão as teias do tempo emaranharam as esperanças?
No jardim dos mistérios já não crescem girassóis de luz e eternidades?

Sem querer fomos inundando os dias de águas sem claridade?
Sem entender o porquê, enjaulamos o vôo do nosso pássaro interior?
Sem sentidos fomos tateando na escuridão o nosso geográfico destino?
Sem a serenidade do infantil riso fomos apagando os sonhos?

Pergunto-me antes que o dilúvio desabe na minha aldeia
Antes que não essencialidade das abelhas não exista a labor do mel
Antes que a minha sombra seja uma infame mancha no chão de pedras
Antes que a solidão tome conta do meu poema e me expulse da luz

Pergunto-me e pergunto-te ...antes que não te encontre.

Flavio Pettinichi 21 – 02-2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


carnaval 2010 - Cabo Frio - Fotografia Flavio Pettinichi

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Baianas no carnaval de cabo frio - 2010 - Fotodigital: Flavio
Pettinichi

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


Final de festa
Não adiantou correr na contramão do teu destino
Tudo o que levavas foi um inverossímil poema sem fim
Quando gritastes na escuridão do homem teu grito foi cego
E nada mudou a não ser a necessidade de um suicido em prestações

Não serviu teu paletó, guardado a sete chaves, na hora do adeus
Nem a maquiagem tão sutilmente disfarçada na hora do amor
Tivestes as tuas horas perdidas e o teu mistério expostos no sal
Nada do que sonhastes foi o teu caminho e sim uma trilha sem flores

Uma mesa vazia é teu ultimo reduto de orações pagas e pagãs
Escolhestes como água bendita uma garrafa do pior que estiver na prateleira
Nunca, foi teu salmo e rosário perpetuado na tua boca sem dentes
Agora a rua está vazia e a multidão , que já passou,cuspiu a tua ferida aberta pelo olvido

Não há carnaval para quem vive fantasiado de si mesmo

Flavio Pettinichi – 12 – 03- 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010


http://www.youtube.com/watch?v=4kREf_oDsxw&NR=1




Era final de tarde e uma música agitada escapava pela janela da rua sonolenta, uma borboleta fora de época procurava uma flor sem nome e no céu nenhuma nuvem para formar dragões. Toda tristeza estava exilada nesse momento que agonizava sem dor, alguns pés foram acompanhando o ritmo que agora alem da janela, também escapava de alguma alma desprevenida do letargo e invadia o silêncio com um sorriso aberto como um parto.
Aos poucos outros pés despidos de pudores e nus de toda vergonha transformavam a geografia em um cosmos musical onde cada estrela nascia dos olhares lagrimejantes de alegria e as formas, que desvaneciam em sombras multicolores, iam tomando corpo na pista de dança improvisada pela multidão que já não carregava insônias.
O primeiro a acompanhar a melodia misteriosa perguntou ao segundo se sabia onde estavam os pássaros azuis da alma, o segundo respondeu que nem sempre os mares definem o traçado do destino, o terceiro escutando a indagação pensou para sim que toda pétala seca era uma entrega essencial ensinada aos besouros, assim foram se perguntando , um a um e respondendo ate que na imensidão do cosmos toda constelação foi a luz que iluminaria o regresso para a casa de cada um deles .
Então a musica que vinha da janela foi dormindo em si mesma e acordando no interior da multidão que ria sem liturgias e foram felizes para sempre.
Fim.
Flavio Pettinichi- 07- 02- 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Vestiram-se de noite e o perfume da vida invadia o ar, quem diria que essa imensidão de ternura acabaria em alguma fronteira alem dos mares da paixão?
Cada um deles escolheu um presente como ultima prova de entrega e coragem, não perceberam que no campo de batalha o único que se recebe ou se dá e a intermitência de uma anunciada renuncia e um vazio imperfeito de mistérios. Agora já era tarde e o orvalho lacrimejava seu destino antes de um amanhecer cinzento de esperanças.
Percorreram o mesmo caminho que os tinha unido e como num estado de rumores desataram os trovões que estiveram escondidos antes que a tormenta da paixão e o medo se escondessem atrás do poema parido em poucas palavras e um lençol de relva.
Fitaram o horizonte com a mesma entrega dos cegos, suas mãos já não suavam e com um beijo calmo como a lagoa dos sonhos voltaram cantando, o chá já estaria pronto e pela janela ainda entrava uma leve brisa de saudades.
Flavio Pettinichi- 05- 02- 10

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


detalhe Igreja São Benedito de Cabo Frio
Fotodigital- Canon Powershot 560 - Flavio Pettinichi - 2010

Não existe a possibilidade do silêncio no ensurdecedor ruído das saudades
Toda matéria fala do teu passo e as pegadas fossilizaram a minha lágrima
Cavei e enterrei em vão as promessas pactuadas na ancestral noite
E agora brotam momentos e lembranças dos muros de um presídio vazio

Não existe a possibilidade do retorno de algo que não partiu e espera
Todo mar é um espelho onde se espelha se reflete o teu estrelado corpo
E como uma nau ,sem capitão, as cordas amarram os desejos do horizonte
Então as brisas acordam o infinito e o teu adeus é um fugaz cometa de dor

Não existe a possibilidade da palavra que negue teu poema de vida
No regaço do teu corpóreo verso descansam as tormentas do passado
Toda a substância dos teus lábios é a natureza esperando a semente
Assim a floresta da tua alma invade o caminho onde neguei os mistérios

Deixei a porta fechada para que não escape a lembrança do teu beijo.

Flavio Pettinichi – 02 – 02- 2010