terça-feira, 27 de março de 2012


fotografia e texto : Flavio Pettinichi 2012
Porque eram teu rios ,minhas lágrimas
e redemoinhos eram teu beijos
na ressurgências dos desejos
Na letargia da erótica derme
como espasmos de asas em voo cego
e galhos quebrados ao som das brisas
sem nada do que foi silêncio no ardor da oração
silenciando pagãos rituais que dormiram em ti
em lancinantes estágios do adeus ardendo
dentro de mim
calando palavras na densidade da noite
como facas de infame sorte querendo o corte
que na afundada matéria dentre as marinas rochas
descompõem-se em vida no liquido espaço
de molusca entranha esvaídas de momentos
outrora leves ,outrora cegos sem destinos férteis
onde as sequidades dos fluxos invadem-se
a si mesmos
regurgitando o espanto de misericordiosos salmos
de almas em lamas infectas de paixão
não havendo puberdade nem perdão
eis que calamos...
herméticos

FlavioPettinichi- 27- 03- 2012

quinta-feira, 15 de março de 2012



fotografia e texto ( conto) flavio Pettinichi - 2012

“O Muro do amor”-
Mini Conto de Flavio Pettinichi

Nos muros da minha rua estão escritos alguns nomes de alguns amores que talvez tenham sido algumas paixões de alguns incautos amantes nalguma instância de carência e agonias.
Eu fui decifrando cada um deles como quem faz uma autopsia de si mesmo, na carne liberta e sentindo a dor que implica separar os tecidos da alma e as veias abertas de abertas lembranças.
Foi então que descobri o mapa do medo e do amor, hieroglíficos de signos olvidados foram as minhas palavras e o silêncio foi tomando a voz destes mistérios.
Era Francisco quem amou Teresa , numa tarde de nubladas esperas e insanas palavras escondidas num paletó esquecido num antiquário de mistérios. Teresa não amou Francisco , nem sequer odiou, um pacto de sombras impedia ter estes sentimento , quase humanos, quase etéreos, e um dia ela saiu pela porta dos fundos da alegria e nunca mais voltou.
Eu descobri Teresa e vesti o paletó de Francisco numa esquina fria de Londres, ela não reconheceu meu canto , que era o canto mudo de Francisco e entramos os dois pela porta da frente de um cemitério escuro de desejos e nunca nos beijamos.
sai pela porta pela qual entrei e nunca mais voltei.
Assim continuei na leitura apócrifa deste muro de vida e cal , desentranhando sonhos e pesadelos sem voltar atrás.
Era Maria quem amava Antonio , homem de poucas histórias e corpóreas dúvidas, feridas abertas pelo passado e infecções de uma existência vã.
Maria uma mulher de palavra pouca e beijos de infernal sensibilidade , mulher de fartos seios e leite farta sem sementes germinadas.
Conheceram-se na estreites da infame miséria do homem e amaram-se escondidos de si mesmos.
Antonio abandonou Maria indo à procura da fé infantil de um Deus de moedas e nunca mais voltou , Maria derramou seu leite em rios de luxuria e nunca mais secou.
Em rabiscos , descobri Helena que odiou Marcelo e sempre desejou, helena de loiros cabelos, de sonhos impuros, da flor tatuada no sexo e do vazio voraz de amar sem se entregar.
Marcelo de patéticas esperança, da flor seca no sol,do sal queimando esperas e livros incendiados nos túmulos abertos das caridades sem amor.
Odiaram-se numa interminável espiral de mentiras, traições e desumanos desesperos, sem pecados nem penitencias, sem redenção e sem Deus vivo na sensação da dor e foi bom.
Encontrei os dois , tomados das mãos , numa ilha habitada de poetas cegos e mudas ninfas virgens , um paraíso onde só os castos e os puros tem o direito de permanecer.
Eu saí pela trilhados fundos e nunca mais voltei.

Flavio Pettinichi – 15 de março de 2012