quinta-feira, 28 de abril de 2011

Música corpórea


Fotografia e texto: Flavio Pettinichi - 2011


Hoje te dou meu som e o meu pulsar
Sons de galopes e pegadas de cavalos selvagens
Sons que invadem a noite e derrubam medos
Sons ancestrais como a essência nua da alma

Hoje te dou as minhas cores e meu sentir
Cores que pintam as desertas ruas da solidão
Cores que , insanas, cobrem de luz teu corpo
Cores compostas de sonhos e ternuras

Hoje te dou meu corpo e o meu desejo
Corpo que estilhaça esperas e esquece a palavra
Corpo que desnuda a prece e desconhece o pecado
Corpo de fera e floresta de crepuscular imanência.

Flavio Pettinichi- 28- 04- 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011


Música corpórea II
Texto e Fotografia: Flavio Pettinichi- 2011
Da série “ quatro estações” - INVERNO


Eu te abraço dentre espinhos e cacos de vidro
Dentro da putrefação da agonia, te abraço
E sinto em mim um silêncio de saudades
Como faca que, perfurando a noite,
sangra estrelas

Eu te abraço sem o meticuloso ato de parir poemas
Porque te abraçando não sinto a dor que não fere
Nem a teimosia inerente das pedras enfeitando o mar
Abraçando-te algo morre em mim é não é o pecado.

Eu te abraço na clemência e na tortura das palavras mudas
Mudas pedras que em nada mudam o destino do rio
E assim como um nascimento de cactos abraço a vida
Que nada me deixa a não ser a sensação da espera.

Agora deixo o meu corpo inerte como uma nota esquecida
Deixo-me arrastar dentre as sombras que não guardam medos
Deixo a volúpia da insana noite estuprar isto que foi essência
E é agora parte do éter na magnificência musical da vida.
Flavio Pettinichi- abril- 2011

sábado, 23 de abril de 2011

Sou o desafinado violino de uma orquestra muda



fotografia e texto : flavio Pettinichi- 2011

Eu sou esta revolução que sangra das suas múltiplas feridas
Sou esta revolução que deságua no ralo do medo
Eu sou a mentira que grita agonizante e sem perdão
Sou todo o pecado que ainda não foi cometido

Sou a falta da vergonha e todo o corrupto ser
Sou o pau travando a roda e o cerol na línea do prazer
Sou quem te chuta na escuridão e foge às sombras
Sou a cuspida no teu prato e o lençol sujo na tua lágrima

Sou o perdão de Deus e o exílio da bondade no éden
Sou toda irreverência na hora do enterro e a prece
Sou a mão que rouba a esmola do cego e o faminto
Sou o espinho da única flor no deserto da caridade

Sou o desafinado violino de uma orquestra muda
Sou a pedra que mata o pássaro na brincadeira infantil
Sou a lama do descalço na noite das infames promessas
Sou o espelho quebrado que esconde o rosto do silêncio

Isto é, porque apenas sou...
Ser humano.

Flavio Pettinichi- 23- 04-2011

sábado, 9 de abril de 2011

música corpórea


Ensaio Fotográfico-
Foto e Texto : Flavio Pettinichi- 2011
“Música Corpórea - Nus vestidos de som”
Instrumento divino, a fêmea forma.

Existe uma sinfonia dentro do silêncio e o corpo feminino guarda os segredos de harmonia e compassos na partitura da sua forma.

Existe um sem fim de notas musicais mimetizadas no fruto que irá transcender da humana forma-mulher, que, numa explosão de sentidos, traz à tona a música vital.

Não há dissonância na essencial condição que possa atordoar o canto supremo da existência, quando a mulher entoa o salmo do amor e a entrega magna à ele.

Amor este, que canta e dança nos quatro pontos cardeais do homem, assegurando a eternidade do ritual da criação suprema que denominamos como Vida.

O instrumento como corpo e o corpo como instrumento, fazem um jogo conceitual da procura inata do ser, muito mais na mulher, quando pensamos nas características fundamentais dela.

Quem negará a fibra quase madeira da mulher na luta e na entrega?

Quem ofuscará o brilho do metal reluzente onde espelhamos nossos momentos?

Quem desatará as cordas que ela amarra e desamarra na instancia precisa dos momentos?
Quem nunca sentiu o sopro essencial dos seus pulmões preenchidos de ventos e brisas.

Quem dirá que nunca viu a mulher como um violoncelo, calmo, seguro, presente, na hora da tormenta?
Quem já não quis tocar a suavidade visceral das suas cordas intimas?

Que como Harpa, sempre ereta, expande o som da proteção e da ternura, ternura voraz que rege o destino de todos nós.

Quem não dançou no batuque do seu coração tribal, acolhendo o que é vida?

Quem já não guardou o desejo de uma mulher como se este fosse o ultimo violino Stradivarius na fase da terra?

Corpo de musical forma, forma corpórea do som, essência latejante da harmonia, enfim MULHER.

Flavio Pettinichi- abril de 2011

domingo, 3 de abril de 2011

adaga poesia


Talvez seja riso, talvez inciso
Um recipiente vazio guarda mistérios.
E sem volúpias, uma borboleta morta
Adorna o estante do tempo escondido.

Quem desentranhará a nudez da tua alma?
O vácuo infinito do que nunca foi saudade
Quem terá a coragem de carregar o que não foi luz?
Há nos cegos uma corcunda de lágrimas secas.

Não adiantam palavras com presa
Nem atrasam os relógios de nuvens.
Sentir é um destino de desérticas razões
Feridas esperas agonizam numa plataforma
Vazia.
A poesia corrói o aço do humano inverno
Há chuvas nos dias de tristezas eloqüentes.
A poesia é uma adaga que fere sem morte
E sangra em cada instante que escolhe o silêncio.

Flavio Pettinichi – 31 de março de 2011