segunda-feira, 26 de setembro de 2011


foto: Flavio Pettinichi 2011


Não há silêncio na imensidão da poesia dormida
Não há aconchego no regaço da dor do poema mudo
Então a minha pedra voa e ecoa no descontrole da noite
E estilhaça toda impunidade que censure o grito da palavra.

Não há perdão nem redenção para os que esquecem a aurora
Não há indulto nem indulgencia para os que amputam os rios
Minha foice decapita estrondos de pesadelos escondidos nas almas
Pintando de vermelho o beijo demoníaco do espanto que ainda espera.

Quem de nós é livre do pecado absurdo de morrer sem voz?
Quem de nós quer pagar a penitência das pedras e as espumas?
Louvada seja o instante onde deitamos para parir o poema
Louvados sejam os poetas que não dormem desenhando a constelação
Dos sonhos!

Flavio Pettinichi – 25- 09- 2011
Sinto o suor da alcatéia e seu nauseabundo ofegar
Espasmos de medos e taciturnos pensamentos vis
Há no rastro da dúvida gotas de coagulada espera
E pegadas secas de um tempo em vão.

Sinto-os chamarem desde o porão da raiva branca
Com flores murchas apertadas nas suas garras de misericórdia
Lateja a noite o seu coração de feridas sombras
Dentre apócrifas escritas num livro em branco e sem perdão.

Clamam as bestas com salmos de renegados amores
Escondendo-se nas trevas de promessas sem destino.
E no espelho da alma ecoam imagens esvaídas de si
Porém nada detém a estridência da sua dor e desespero

Há um lago onde as feras afogam seus sonhos
E os cisnes deleitam-se com o canto das algas
Então todo silêncio murmura sua harmonia de luz
E nessa geografia fictícia o homem cala ...sorrindo.

Flavio Pettinichi – 26- 09- 2011



Fotografia manipulada, Flavio Pettinichi 2011